"Quero meus livros distribuídos, eles não devem ficar friamente guardados. Quero que, em uma ordem cíclica, milhares e milhares de livros sejam impressos, e sejam distribuídos e novamente publicados."
Srila Narayana Maharaj - hari katha: "A Importância da Distribuição de Livros"

domingo, 31 de maio de 2020

Quem é o melhor devoto?



Tridandi Gosvami Sri Srimad Bhaktivedanta Narayana Maharaj
Marwillumbah,Austrália:5 de dez/2002

Temos estado discutindo os degraus de bhakti. De acordo com o estágio de bhakti do devoto, ele é classificado como superior ou inferior. Todos os devotos são bons, mas nós os honramos de acordo com o tipo de sua prática de bhakti. O tipo de bhakti que eles praticam determina se eles são kanistha-adhikari, madhyama-adhikari ou uttama-adhikari. Se nós não honrarmos os devotos de acordo com o seu grau de bhakti, podemos não desenvolver nossa própria bhakti. 

Primeiro devemos saber a definição de bhakti, e então devemos fazer uso desta definição como um barômetro para facilmente determinar as várias etapas e os diferentes tipos de bhaktas.

Bhakti foi definida no Kapila-Devahuti-samvada (discussão) no 3o. Canto do Srimad-Bhagavatam, no qual Kapiladeva instruíu sua mãe. Lá ele declara:

mad-guna-sruti-matrena
mayi sarva-guhasaye
mano-gatir avicchinna
yatha gangambhaso ’mbudhau
laksanam bhakti-yogasya
nirgunasya hy udahrtam
ahaituky avyavahita
ya bhaktih purusottame

“A manifestação inadulterada do serviço devocional ocorre quando a mente sente-se atraída por ouvir o nome e as qualidades transcendentais da Suprema Personalidade de Deus, que reside no coração de todos. Assim como a água do Ganges flui naturalmente rumo ao oceano, esse êxtase devocional, ininterrupto por qualquer condição material, flui em direção ao Senhor Supremo.”(Srimad Bhagavatam 3.29.12)

No Srimad Bhagavatam não há “casca” e nenhuma “semente". Há somente rasa (néctar) do começo ao fim, em toda parte. Kapiladeva era o filho de Kardama Rsi, o qual era a própria manifestação de Krsna como Rshabadeva –um saktyavesa-avatara. Kardama Rsi retirou-se da vida material, deixando todas as posses materiais, considerações e pensando serem falsas as relações materiais.

Ele foi para a floresta para realizar a adoração de seu Senhor. Ele não precisava ter deixado sua casa, mas fez isto para ensinar aos outros através do seu exemplo. Em seu laukika-lila, passatempos na forma humana, ele agiu como um pai, assim como Krsna, a Suprema Personalidade de Deus, agiu como um filho com seu pai. Em Vrndavana, Krsna adorou o Radha-kunda, ao passo que em Dvaraka Ele adorou Sankara para receber as bênçãos de um filho e não houve mal nisto.

Similarmente, embora ele fosse um saktyavesa-avatara, Kardama Rsi deixou o lar para tomar ordem renunciada e viver na floresta. Antes de ir, contudo, ele disse para Kapiladeva ajudar sua mãe. Srimati Devahuti inquiriu de Kapiladeva sobre o propósito e o objetivo de todas as almas. Kapiladeva respondeu para sua mãe que a meta da vida é alcançar pura bhakti, e suas instruções estão contidas em muitos capítulos do Srimad-Bhagavatam. Ele ensinou que não se deve ter um grhasta-dharma proeminente, no qual os chefes de família estão sempre engajados na proteção, nutrição e apoio de seus familiares. Um dia a pessoa terá que deixar a família, senão por si próprio, então, forçosamente. É imperativo, portanto, que se engaje em bhakti como definido acima pelo Senhor Kapiladeva. Há uma outra definição de bhakti dada anteriormente no Srimad-Bhagavatam:

sa vai pumsam paro dharmo
yato bhaktir adhoksaje
ahaituky apratihata
yayatma suprasidati

[ “A Suprema ocupação (dharma) para toda a humanidade é àquela mediante a qual os homens podem alcançar serviço devocional amoroso ao Senhor transcendental. Tal serviço devocional deve ser imotivado e ininterrupto para satisfazer o Eu completamente.” (Srimad-Bhagavatam = 5.7.11)

Srila Rupa Goswamipada havia incluído nestas, suas próprias definições de bhakti anteriormente, a mais completa definição :

anyabhilasita sunyam jnana karma avartam
anukulyena krsnanu silanam uttama bhakti

[(sinônimo de palavra por palavra)
anya-abhilasita-sunyam – sem desejar nenhuma outra coisa que seja o = serviço ao Senhor Krsna, ou sem desejos materiais (tal como comer carne, sexo ilícito, jogos e hábitos de intoxicação),
jnana – por conhecimento da filosofia dos monistas mayavadis;
karma- por atividades fruitivas;
adi- por praticar artificialmente o desapego, pela prática mecânica de yoga , pelo estudo da filosofia sankhya, e assim por diante;
anavrtam- não coberto,
anukulyena- favorável;
krsna-anusilanam- cultivo de serviço no relacionamento com Krsna;
bhakti-uttama-primeira classe de serviço devocional]

“Uttama-bhakti, serviço devocional puro, é o cultivo de atividades que são exclusivamente para a satisfação de Sri Krsna, ou em outras palavras, o ininterrupto fluxo de serviço para Sri Krsna realizado através de todos os esforços do corpo, mente e fala, e através da expressão de vários sentimentos espirituais (bhavas). Não é coberto por jnana (conhecimento que visa a liberação impessoal) e karma
(empenho em atividades fruitivas) e ele é destituído de todos os desejos exceto a aspiração de trazer felicidade para Sri Krsna.” (Sri Bhakti-rasamrta-sindhu 1.1.11 )

Externamente é visto que as palavras anukulyena (favorável) e anusilanam (empenho para satisfazer Krsna) tem o mesmo significado, mas não. Uma árvore pode ser anukula para Krsna, mas ela não é anusilanam. Ela não está conscientemente engajada em qualquer atividade para Krsna, nem tem qualquer relacionamento com Ele. A árvore de bhakti, portanto, não é uttama, ela nem é igualmente bhakti. O curso disto não se aplica para as árvores de Vraja . Elas são todas transcendentais e realizam uttama-bhakti. É por esta razão que a palavra anusilanam (engajamento contínuo em atividades realizadas sobre a guia da sucessão discipular para o propósito exclusivo de beneficiar Krsna e fazê-lo feliz) foi empregada por Srila Rupa Goswami. Ambas as palavras são necessárias e incluídas em sua definição completa.

Se esta definição é aplicada para Dhruva Maharaja, é visto que ele tem algum defeito. Seu defeito era sua anyabilasita (outros desejos que o de fazer Krsna feliz) e além disso, ele não tinha anukulyena Krsna anusilanam. Ele era um bhakta sakama (devoto com desejos materiais) e de alguma maneira ele era como um karmi. Há dois tipos de bhakti: pradani-bhuta e guni-bhuta. Guni-bhuta bhakti também é chamado de karma-misra-bhakti ou jnana-misra-bhakti. Quando karma e jñana são proeminentes no serviço de bhakti, este bhakti será pradhani-bhuta, e portanto, o bhakti de Dhruva Maharaja era guni- bhuta, e portanto, o bhakti de Dhruva Maharaja era guni-bhuta. Ele desejava ganhos fruitivos (um reino maior do que o de seu pai e o de seu avô, Brahma) e deste modo suas atividades não podiam ser tocadas pela definição de Srila Rupa Goswami. Os Vaisnavas não desejam ser como Dhruva Maharaja, mas eles podem aprender algo do exemplo do resultado de sua prática.

Agora vamos discutir Devahuti.
Kapiladeva ensinou a ela muitas verdades sobre bhakti, mas no final ela alcançou somente nirvana-prapti. Quem era o aradhadeva dela? Quem ela adorava? Não era Krsna, Rama ou Nrisimhadeva. Ela adorava Brahma. Vocês devem ler o Srimad-Bhagavatam completamente, de outra maneira vocês não irão entender estas verdades. Foi ensinado a Devahuti o significado de bhakti. O fruto de bhakti não é Brahma-nirvana, mas Devahuti não tinha especial aradhadeva (deidade adorável), como Nrisimha, Vamana, Kalki, Rama ou Balarama. Ela simplesmente alcançou Brahma-nirvana; que é dizer que ela viu que Brahma está em todas as entidades vivas. Brahma é nirakara (sem forma), nirguna (sem qualidades), niranjana, e por conseguinte ela não alcançou a apropriada definição de uttama-bhakti. Um bhakta verdadeiro irá se recusar a aceitar qualquer tipo de nirvana de Krsna. Há muitos tipos de nirvana, mas os devotos puros irão recusar todos eles. Algumas lições devem ser tomadas dos ensinamentos de Kapiladeva a Devahuti, mas nenhuma dessas lições são Brahma-nirvana.

Que tipo de bhakta era Bharata Rsi? Qual era o seu estágio de bhakti? Em sua vida futura como Jada Bharata, quando o rei Rahugana sarcasticamente o repreendeu, ameaçou castigá-lo e açoitá-lo, ele replicou com o que segue:

[O grande brahmana Jada Bharata disse: “Meu querido rei e herói, seja lá o que for que você tenha falado sarcasticamente é certamente verdade. De fato, estas não são simples palavras de repreensão, pois o corpo é o transportador. A carga levada pelo corpo não me pertence, pois eu sou a alma espiritual. Não há contradição em suas afirmações porque sou diferente do corpo. Eu não sou o carregador do palanquim, mas o corpo o é. De certo como você propôs eu não me empenhei em carregar o palanquim, pois estou desapegado do corpo. Você tem dito que não sou forte e vigoroso e estas palavras caem muito bem em alguém que desconhece a distinção entre o corpo e a alma. Talvez o corpo seja gordo ou magro, mas nenhum homem erudito usaria estes termos ao referir-se a alma espiritual. Enquanto alma espiritual, não sou nem gordo, nem macilento; portanto está correto ao dizer que não sou muito robusto. Também se o objetivo desta viagem que leva a ele fossem meus, haveria muitos problemas para mim, porém como eles não se relacionam comigo, mas com o meu corpo, não há absolutamente problema algum.” (Srimad Bhagavatam 5.10.9)

[“Meu querido rei, você tem desnecessariamente, acusado-me de ser um morto vivo, a isto eu posso somente dizer que verifica-se este fenômeno em toda parte, porque todas as coisas materiais tem seu começo e seu fim. Quanto ao fato de julgar-se o rei e amo e assim tentar me dar ordens, isto também é incorreto porque estas posições são temporárias. Hoje você é o rei e eu lhe presto serviço, mas amanhã esta posição pode mudar, e você pode vir a ser meu servo e eu, seu mestre. Estas são circunstâncias temporárias, criadas pela providência.” ( Srimad Bhagavatam 5.10.11 )

[Meu querido rei, se ainda pensa que é o soberano e que sou seu servo, deve dar-me ordens e eu deverei seguí-las. Posso, então, dizer, que essa diferenciação é temporária e que, persiste apenas, graças ao uso da convenção. Não vejo nenhuma outra causa . Sendo assim, quem é o amo e quem é o servo? Todos estão forçados pelas leis da natureza material, portanto, ninguém é o amo e ninguém é servo. Entretanto, se pensa que é o amo e que sou seu servo, aceitarei isto. Por favor, ordene-me. Que posso fazer por você?” (Srimad Bhagavatam 5.10.12 )

“Num nascimento anterior, eu era conhecido como Maharaja Bharata. Alcancei a perfeição desapegando-me por completo das atividades materiais através da experiência direta e, através da experiência indireta, passei a compreender os Vedas. Ocupei-me em pleno serviço, porém, devido ao meu infortúnio, fiquei sentindo muita afeição por um veadinho, chegando ao ponto de negligenciar meus deveres espirituais. Devido à minha profunda afeição pelo veado, na minha vida seguinte tive que aceitar um corpo de veado.” (Srimad-Bhagavatam 5.12.14)

Em sua vida anterior Maharaja Bharata não foi um siddha-bhakta, ele foi um sadhaka e tinha alcançado o estágio de bhava. Contudo, embora ele não fosse um prema-bhakta, ele era um bhava-bhakta. Havia somente uma escapatória em sua bhakti, e que é aquela sem interrupção (o prefixo “anu” na palavra anusilanam significa ininterrupto). Ele nunca perdeu sua bhakti. Bhakti pode ser somente perdida se cometemos aparadha, ofensas, e Maharaja Bharata não tinha feito isto. Foi escrito no Srimad Bhagavatam que se o karmi segue seu varnasrama-dharma, suas obrigações com a família e sociedade, não irá ter realização plena. Antes, terá que ir ao inferno. Então, qual é o problema de alguém deixar seu varnasrama-dharma, aceitar o caminho de cantar e lembrar-se do Senhor Supremo e, então, deixar o caminho num
estado imaturo?

tyaktva sva-dharmam caranambujam harer
bhajann apakvo tha patet tato yadi
yatra kva vabhadram abhud amusya kim
ko vartha aptocbhajatam sva-dharmatah

“Uma pessoa que abandona suas atividades materiais para ocupar-se no serviço devocional ao Senhor pode às vezes cair, enquanto está num estágio imaturo, mas não há perigo de que seja mal-sucedida. Por outro lado, um não-devoto, mesmo que se dedique plenamente a seus deveres ocupacionais, não ganha nada.” (Srimad Bhagavam 1.5.17)]

Se o praticante morre antes de realizar seu bhakti, ou se algum obstáculo vem e pára sua prática por algum tempo, não há grande perda a menos que ele tenha cometido ofensas. Maharaja Bharata não tinha cometido qualquer aparadha, e portanto, sua bhakti não foi reduzida. Isto teria sido visto através da perda de sua bhakti, mas este não era o caso. Sua bhakti simplesmente estagnou ou conteve-se por algum tempo.Por que que sua bhakti foi interrompida? Srila Visvanatha Cakravarti Thakura explicou que esta era simplesmente uma lição para os outros. Nesta vida, quando ele tomou nascimento como um veado, sua bhakti estava ainda no estágio de rati, bhava, e ele realizou seu erro. Então, em seu terceiro nascimento ele sempre se engajou no serviço do Senhor e ele alcançou prema-bhakti. Anukulyena krsna-anusilanam. Anu significa sem interrupção – como o fluir do mel de um jarro. A bhakti de Maharaja Bharata foi contido porque ele deu seu coração para um veado. Isto não era uma aparadha; antes, isto era um obstáculo. Seu bhakti parou por algum tempo porque ele fez alguma coisa errada. De fato, este era o desejo de Krsna para que nós aprendêssemos alguma coisa de Bharata Maharaja. De fato, ele próprio não caiu. Quando o estágio de ruci manifesta-se no coração de alguém, ele não tem oportunidade para cometer aparadha, o que falar de alguém que tem rati. Ele estava somente nos ensinando que deveríamos ser cuidadosos. No próximo nascimento ele tornou-se um veado, ele lembrou-se do seu erro e se arrependeu; no terceiro nascimento ele tornou-se um brahmana puro. Naquele tempo ele iniciou de rati, onde tinha previamente parado, e então, alcançou Vaikuntha-prema. Ainda, seu bhakti não era uttama-bhakti no sentido estrito do termo. Ele estava adorando Narayana e não, Krsna. Na definição de uttama- bhakti, Srila Rupa Goswami usou as palavras krsna anu-silanam. Uttama-bhakti especialmente significa adorar o próprio Krsna. Bhakti
é pura. Uttama-bhakti so é realizada em relação a Krsna Brajendra- nandana. Ela não se refere igualmente a Krsna-Dvarakadisa ou Krsna- Vasudeva. No terceiro nascimento, Maharaja Bharata tornou-se um bhakta puro. Sua bhakti estava misturada com algum jñana (conhecimento da opulência do Senhor), e isto é entendido pelo que ele ensinou para o rei Rahugana. Ele enfatizou a importância de tattva-jñana, não nirvisesa-jnana. Contudo, até um devoto cruzar o nível de aisvarya- jnana e esquecer que Krsna é o Senhor Supremo, uttama-bhakti não pode manifestar-se na realidade.

Gaura Premanande

Digitação : Kalindi dasi, Sulata dasi e Kanaka Manjari dasi
Editora : Syamarani dasi
Supervisão geral : Govinda dasi
Traduzido para o português : consultores e equipe
Revisão : Ramanatha das
Digitação e organização : Govinda dasi

Fonte: http://www.guardioes.com/melhor_devoto.htm

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