"Quero meus livros distribuídos, eles não devem ficar friamente guardados. Quero que, em uma ordem cíclica, milhares e milhares de livros sejam impressos, e sejam distribuídos e novamente publicados."
Srila Narayana Maharaj - hari katha: "A Importância da Distribuição de Livros"

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Sri Ramanujacarya

 por Srila Narayana Maharaja

[Em 2019, o desaparecimento de Sri Ramanujacarya é celebrado em 15 de fevereiro. Abaixo uma aula na qual Srila Narayana Goswami Mahaja o glorifica no dia do seu aparecimento.]

por Tridandisvami Sri Srimad Bhaktivedanta Narayana Maharaj
Mathura, Índia: 9 de abril de 2000


Hoje é avirbhava, o aniversário de Sri Ramanujacarya e Rama Navami, o aniversário do Senhor Rama, será muito em breve. Ao longo de toda a sua vida, Rama e Sita-devi sempre tiveram problemas, mesmo Rama sendo Deus e Sita-devi sua svarupa-shakti, potência interna. Eles demonstraram através do exemplo que neste mundo, mesmo que você seja um rei e tenha uma forte personalidade, ainda assim sofrerá. Portanto, tente ser como Rama, Sita e Hanuman. Não se preocupe. Há muitas histórias sobre a vida de grandes personalidades que ilustram isso, tal como a vida de Sri Ramanujacarya, uma encarnação de Laksmana (irmão mais jovem do Senhor Rama), e que aceitou a Sri Sampradaya.
Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Prabhupada aceitou muitos dos seus pensamentos, como os deveres dos sannyasis e dos discípulos e a etiqueta Vaisnava. Ele utilizou 108 ensinamentos. Nós seguimos esses ensinamentos, e também os publicamos em nossas revistas Bhagavata Patrika e Gaudiya Patrika, escritas em hindi e em bengali).

Corrigindo seu Guru

Sri Ramanujacarya nasceu em uma família simples. Seus pais não eram muito ricos, mas pertenciam a uma alta casta brahmínica e eram bastante sábios. Na infância já era excepcional, e enquanto esteve sob a orientação de um guru Mayavadi chamado Yadavacarya, estudou dedicadamente.
Certa vez, quando seu guru estava dando uma explicação impersonalista sobre um verso com a palavra taptyasana, ele comparou os olhos de lótus do Senhor com a parte traseira de um macaco que é avermelhada perto do seu rabo. Ao ouvir isso da boca de seu Gurudeva, Ramanuja começou a chorar dolorosamente. Ele sentiu uma grande dor em seu coração ao ouvir de seu Gurudeva uma péssima analogia para descrever os olhos de lótus do Senhor. Após se recompor, ele educadamente perguntou se poderia dizer algo sobre o verso. Yadavacarya concordou e Ramanuja forneceu ótimas e diversas explicações de acordo com a gramática do sânscrito. Ele disse que na verdade, o termo taptyasana significa aquele que traz água, e que esse é o sol. O lótus desabrocha devido a potência do sol, e portanto, os olhos do Senhor são comparados ao lótus, não ao macaco.

Ao ouvir isso, Yadavacarya, pensou: “Este rapaz é perigoso. Ele é muito inteligente e está dando explicações muito boas. No futuro, ele pode remover todos os ensinamentos impersonalistas do Vedas e, portanto, devo matá-lo.”

Protegido pelo senhor


Temeroso, informou aos garotos que todos iriam passear em um determinado dia. De forma bastante confidencial, contou a alguns de seus discípulos sobre o seu plano de matar Ramanuja neste mesmo dia. Entre estes discípulos havia um garoto chamado Govinda, que também era primo-irmão de Ramanuja e quem discretamente contou a Ramanuja sobre a intenção de seu professor.
Ele disse, “Ó, meu irmão, você deve tomar muito cuidado com nosso professor, pois ele está planejando matá-lo esta noite quando todos nós estivermos juntos.” Ao ouvir isso, Ramanuja foi embora imediatamente.
Durante todo o dia e noite, caminhou pela densa floresta, apesar da dificuldade de enxergar o caminho, especialmente à noite. Ao ver Seu querido devoto em tal estado, o Senhor apareceu na forma de Bharadvaja e, segurando uma concha em Suas mãos, mostrou a Ramanuja o caminho. Dessa forma, ele conseguiu cruzar todo o caminho da floresta em pouquíssimo tempo e logo conseguiu sair do vilarejo. Após alguns dias, por compaixão de Yadavacarya e pelo desejo de libertá-lo, começou a estudar sob sua orientação.
Depois de alguns anos, Ramanuja converteu Yadavacarya à filosofia Vaisnava, transformando o seu professor em discípulo. Posteriormente, Ramanuja ouviu sobre as qualidades de um grande guru Vaisnava do sul da Índia chamado Sri Yamunacarya, e eventualmente tornou-se seu discípulo.

A esposa briguenta

Anos depois, casou-se com uma esposa muito briguenta. Seu comportamento era indelicado e nada cooperativo, e aconteciam muitos incidentes e, de certa forma, ele os tolerava. Um discípulo de Sri Yamunacarya e irmão espiritual mais velho de Ramanuja chamado Kancipurna foi até o vilarejo de Ramanuja com sua esposa e ele o aceitou como seu siksa guru.
Certo dia, quando a esposa de Kancipurna estava tirando água de um poço, ela conheceu a esposa de Ramanuja, que ali estava pelo mesmo motivo. Enquanto pegava água, sua esposa deixou espirrar um pouco dentro do pote da esposa de Ramanuja. Embora tenha sido um pequeno incidente, ela ficou furiosa e insultou a esposa de Kancipurna com uma linguagem ofensiva. Kancipurna sentindo-se magoado ao ouvir essa história, partiu com sua esposa para Sri Rangam sem informar Ramanuja. Ao saber do comportamento ofensivo da sua esposa com uma Vaisnava, Sri Ramanuja sentiu-se muito mal e pensou: “Ela está cometendo vaisnava-aparadha; ela tem uma mentalidade ofensiva. Eu preciso fazer algo.”

O truque

Certa vez, um brahmana faminto pediu a Ramanuja um pouco de comida. Ele pediu que fosse até a sua esposa, dizendo-lhe: “Vá até a minha casa e diga a minha esposa que eu o pedi que fosse. Ela lhe dará um pouco de comida.”
Ao chegar na casa de Ramanuja, sua esposa começou a insultá-lo audaciosamente e sem parar. Ela disse a ele para sair dali e que não havia nenhuma comida para ele.
O brahmana novamente procurou Ramanuja e lhe contou sobre o ocorrido, que respondeu: “Espere aqui por alguns minutos.”
Ramanuja então escreveu uma carta se passando por seu pai, dizendo: “Ó minha querida filha, estou providenciando o casamento do meu filho, seu irmão. Venha até nós e traga o seu marido com você .”


Após redigir estas palavras, dobrou a carta e a amarrou com fios coloridos. E junto a ela, enviou um coco e outros itens auspiciosos. Então, entregou esta carta ao brahmana e disse: “Vá novamente até a minha esposa. Desta vez, ela o receberá muito bem.” O brahmana partiu novamente. Após ler a carta, o comportamento da esposa de Ramanuja mudou completamente. Desta vez, ela o recebeu calorosamente e amavelmente e lhe ofereceu todos os tipos de alimentos e doces saborosos. Ao retornar para casa, a esposa de Ramanuja lhe contou sobre o casamento. Ela citou o pedido de seu pai para que ambos fossem à cerimônia.
Ramanuja disse, “Não, não posso ir, pois estou muito ocupado, mas vá acompanhada deste brahmana. Não se atrase.”

Aceitando Sannyasa

Após sua esposa partir com o brahmana, Ramanuja trancou a porta de sua casa e foi até Sri Rangam encontrar-se com seu Gurudeva, Sri Yamunacarya. Ele queria receber sannyasa, mas ao chegar em Sri Rangam, descobriu que Sri Yamunacarya havia partido e seus discípulos estavam realizando um cortejo fúnebre com seu divino corpo.

Ramanuja ficou muito desanimado e triste e pediu que parassem por um momento. Ele queria descobrir o corpo transcendental para que pudesse ter o darshan da divina forma de seu Gurudeva. Ele observou que todos os dedos de uma das mãos do seu Gurudeva estavam abertos, sendo que na outra mão três deles estavam fechados. Perguntou a todos os seus discípulos qual era a explicação para isso e também o que havia acontecido.
Ninguém conseguiu responder. Então disseram, “Nós não havíamos notado isto antes; deve ter acontecido agora.”
Ramanuja ficou em silêncio e após algum tempo, falou em direção ao corpo transcendental de Sri Yamunacarya: “A partir de agora, escreverei um comentário Vaisnava do Vedanta e pregarei este comentário por toda a Índia.” Um dos dedos abriu e Ramanuja continuou falando, “Receberei tridandi-sannyasa agora mesmo e pregarei a mensagem de vaisnava-dharma e seus ensinamentos.”
Quando Sri Yamunacarya ouviu isto, seu segundo dedo também se abriu. “Escreverei sistematicamente sobre a etiqueta Vaisnava, explicando o comportamento necessário para executar serviço devocional puro, e sobre quais precauções devem ser tomadas. Também pregarei isto por toda a Índia.”
Após proferir esta terceira declaração, Sri Ramanuja, juntamente com todos os presentes, observou que os três dedos de Yamunacarya haviam se aberto. Ali mesmo, Sri Ramanujacarya aceitou formalmente tridandi-sannyasa de Sri Yamunacarya.


O discípulo ideal

Corpo de Sri Ramanuja preservado no Templo de Srirangam

Qual é o dever de um discípulo ideal? Ele não deve apenas ficar com seu Gurudeva; ele deve tentar doar toda a sua energia através do corpo, mente e palavras, e tentar servi-lo de acordo com os seus desejos. Ele não deve estar presente apenas fisicamente, pensando que algo emocionante está prestes a acontecer, permanecendo sem entusiasmo para servir. Este não é um discípulo, e sim totalmente o oposto disto. Um verdadeiro discípulo sempre deseja, com seu coração e mente, servir o seu Gurudeva da melhora forma.
Sri Ramanujacarya havia recebido formalmente iniciação de Sri Yamunacarya. Depois disso, todos os discípulos de Sri Yamunacarya que eram grandes estudiosos e serviram seu Gurudeva por muito anos, juntaram-se a ele. Vendo a personalidade e características extraordinárias de Sri Ramanujacarya, coletivamente decidiram que ele deveria ser nomeado como o próximo acarya e o honraram com o assento de acarya em Sri Rangam.
Sri Ramanujacarya aceitou as ordens de seus irmãos espirituais, mas antes de se sentar e agir como um acarya, foi a cada um deles e permaneceu lhes servindo por dois, quatro, seis meses ou até mesmo um ano.
Esforçou-se formalmente para compreender os ensinamentos de Sri Yamunacarya, uma vez que não teve a oportunidade de passar muito tempo com ele. Após servir e satisfazer seus irmãos espirituais, Sri Ramanujacarya iniciou seu papel como acarya da Sri Sampradaya em Sri Rangam.

Sampradaya em Sri Rangam

Devemos seguir atenciosamente o exemplo de Sri Ramanujacarya. Não só devemos servir intimamente nosso Gurudeva, mas também respeitar e honrar devidamente os nossos irmãos e irmãs espirituais. Se alguém for sênior a nós, tendo servido nosso gurudeva há mais tempo, devemos demonstrar grande respeito por essa pessoa. Se alguém for igual a nós, devemos respeitá-lo amigavelmente e se encontrarmos alguém em uma posição inferior, mas determinado a aprender, devemos sempre ser misericordiosos. Devemos tentar executar serviço devocional de maneira bastante harmoniosa.

Refutando as impersonalistas

Ao se tornar oficialmente acarya, Sri Ramanujacarya começou a pregar muito fortemente o culto de Sri Yamunacarya. No sul da Índia, duas seitas impersonalistas são bastante proeminentes: Saiva e Sankaracarya.
Os seguidores de Sankaracarya aceitam os Vedanta-sutras como: “sarvam kalvidam brahma” e “tat tvam asi.” Eles pensam que são o brahma impessoal e acham que tudo vem de brahma.
A Escola Saiva considera que o Senhor Shiva é a verdade suprema e desejam se fundir a ele. Esta é a diferença básica entre elas.
Sri Ramanujacarya refutou e derrotou todo o impersonalismo através de sua pregação forte e eficaz.

Tradução: Madhukari Radhika devi dasi

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