"Quero meus livros distribuídos, eles não devem ficar friamente guardados. Quero que, em uma ordem cíclica, milhares e milhares de livros sejam impressos, e sejam distribuídos e novamente publicados."
Srila Narayana Maharaj - hari katha: "A Importância da Distribuição de Livros"

terça-feira, 26 de maio de 2020

Os 24 minutos finais



(Austrália, 20 de Janeiro de 2000, pm)

Era uma vez uma guerra entre os semideuses e os demônios. Os semideuses vieram a terra, a Índia, onde havia um poderoso rei chamado Khatvanga Maharaja. Eles pediram ajuda a esse rei para que ele se tornasse o general deles, o líder deles. E o rei disse a eles, "Sim, estou indo". E ele foi para o campo de batalha. Era uma guerra muito grande e finalmente o rei derrotou os demônios. Alguns deles foram mortos, e o resto fugiu. Todos os semideuses então disseram ao rei, "Nós lhe daremos qualquer bênção que você queira. Daremos tudo que você quiser". O rei disse, "Na verdade, eu quero a salvação desse mundo, e eu quero servir a Suprema Personalidade de Deus". Os semideuses disseram, "Nós não somos capazes de lhe dar isto. Você pode pedir outra bênção". O rei disse "Então, Vocês devem me dizer quando a minha morte chegará". Eles responderam, "Muito em breve; em 24 minutos". Ele, então, pediu isto, "Vocês devem me levar imediatamente para a Índia, para a terra". E assim eles fizeram. Quando o rei chegou, a metade do tempo já havia passado e restavam apenas 12 minutos. Ele se sentou na postura de lótus como um muni e se concentrou nos pés de lótus de Krishna. Desta forma, em um instante, ele foi liberado; e ele teve a oportunidade de servir aos pés de lótus de Krishna. Mesmo um instante pode nos dar tudo isso; mas o que vocês estão fazendo? Nós não estamos ocupados em bhakti pura. Nós temos tantas necessidades mundanas. Para manter a nossa vida, nós ficamos ocupados em tanta aropa-siddha bhakti (a execução daquelas atividades que possam parecer devocional mas que na verdade não são. A palavra "bhakti"; ou "devoção"; é particularmente sobreposta na atividade). Estamos muito ocupados resolvendo nossos problemas materiais. 

Por mais que tentamos resolver esses problemas, entretanto, mais problemas surgirão como as ondas do oceano, um a um. Nós pensamos, "Oh, se eu atravessar este aqui, tudo ficará bem". Mas, ao invés disso, vemos, "Oh, agora tem mais problemas!" Então, não tentem fazer tudo isto. O que devemos fazer? Devemos cantar e se lembrar de Krishna. Assim, automaticamente todas as ondas de problemas serão resolvidas, e a manutenção também será realizada. Tudo será feito. Devemos apenas tentar resolver o problema de como realizar o serviço a Krishna, e especialmente como realizar Vraja-bhakti. Se você quer um pouco de dinheiro, você pode consegui-lo com pouco esforço. Entretanto, se você quer uma coisa mais elevada, você deve fazer muito esforço. Não se alcançará isto rapidamente. E o que é esta coisa mais elevada? Prema-bhakti. Você terá de dar o seu precioso tempo – tudo – por isto. Você terá que ser um mendigo, e não tem nenhum problema quanto a isso.

[Srila Narayana Maharaja gesticulou em direção a foto de Srila Prabhupada na parede oposta.]

Oh, veja Srila Svami Maharaja sorrindo. Talvez essa foto seja de seus últimos dias?
Devoto: Foi na Austrália em uma caminhada matinal no jardim botânico em Melbourne.
Srila Narayana Maharaja: Em que ano?
Devoto: Eu não lembro… no começo dos anos 70… 1974.
Srila Narayana Maharaja: (Em seu naravat, passatempos humanos) ele também era assim no início, em sua juventude. Ele estava resolvendo muitos problemas, mas então ele fez assim. [Srila Maharaja levantou as mãos como em total rendição.] Suponha que alguém venha matá-lo. Se você estiver fazendo isto e aquilo, ele tentará matá-lo. Mas se alguém vem matá-lo e você levanta suas mãos, então...
Madhava Maharaja: A bandeira branca da rendição.
Srila Narayana Maharaja: Srila Svami Maharaja se rendeu em Mathura (quando ele foi lá como um vanaprastha). Ele foi um acarya muito poderoso. E aquele acarya poderoso estava servindo a todos – meu Gurudeva e os outros. Vocês estão me vendo. Eu não tenho nenhum problema – nem mesmo um problema com a morte. Nunca tive qualquer problema, e eu acho que não terei nenhum problema para resolver no futuro. Minha única preocupação é com o benefício espiritual de vocês. Tentem entender isto.

Depois da grande batalha de Kuruksetra, como contado no Mahabharata, todos foram mortos com exceção de Krishna e dos Pandavas. E, do outro lado, Krpacarya, Ashwathama, e Krtavarma foram abandonados. Praticamente todos foram mortos. Uma pessoa cega, que na verdade havia criado todos os problemas, também estava lá para realizar estas coisas. Quem era aquela pessoa cega? Maharaja Drtarastra. Naquela época, havia uma única pessoa cega, e hoje todos são cegos. Nós não temos uma fé forte em Krishna e em Krishna bhakti, e desta forma somos todos cegos.

Então, a guerra havia acabado, todos estavam mortos e os Pandavas estavam chorando muito. Eles se lamentavam falando assim, "Nós matamos todo mundo. Agora só existem viúvas na Índia". Apenas as viúvas continuavam vivas e todos estavam chorando. Yudisthira Maharaja e todos os Pandavas pensaram, "Nós somos a causa principal de toda a destruição. Por que fizemos isto? Devemos desistir de todo este reino e nos tornar mendigos". Mas Krishna disse a eles, "Vocês devem se aprontar. Estamos indo visitar o Avô Bhisma. Ele ainda está vivo". Bhisma Pitamaha (avô) era muito poderoso e era capaz de suspender sua própria morte por 6 meses. Uma bênção lhe foi dada para que ele deixasse o corpo quando quisesse. Do contrário, a morte estaria esperando por ele; e a morte já estava esperando há 6 meses.

Krishna reuniu todos os 5 Pandavas e Draupadi e foram todos até Bhisma Pitamaha, onde ele estava deitado em sua cama de flechas, e seu corpo inteiro estava perfurado pelas flechas. Os 5 Pandavas e Draupadi oferecem pranama (reverências) a ele e sentaram-se aos seus pés. Quando Bhisma Pitamaha viu Krishna, ele ofereceu pranama com os olhos, por que suas mãos e tudo mais estavam perfuradas pelas flechas. Com os olhos, ele orou a Krishna para sentar-se em frente a ele, muito próximo. Então, Krishna sentou-se muito próximo, e os Pandavas se sentaram aos seus pés.

Krishna disse, "Oh, Bhisma Pitamaha, você é um devoto tão elevado e conhece todo o Vaisnava-tattva. Você deve acalmá-los. Eles estão muito preocupados, achando que mataram muita gente, todos". Quando Pitamaha começou a contar algo, Draupadi estava sorrindo. De que jeito ela estava sorrindo? Ela estava escondendo o sorriso por trás do véu. Ela não estava gargalhando, "Ho ho, ho…", mas estava rindo. Bhisma Pitamaha olhou para ela e perguntou, "Minha querida filha Draupadi, por que você está rindo? Eu quero saber". Draupadi respondeu de forma muito humilde, "Oh, Bhisma, você está a ponto de transmitir conhecimento, mas onde estava você quando Duryodhana estava tentando me deixar nua? Você está dando uma aula com tão elevado conhecimento, mas onde estava você naquela ocasião?". Bhisma muito humildemente disse, "Minha querida filha, naquela época eu recebia minhas refeições de Duryodhana, o demônio. O humor do demônio estava ali, naqueles alimentos. Naquela época eu estava ciente de todas essas coisas, mas eu era muito fraco. Naquela época eu não podia detê-lo. Eu não conseguia controlá-lo. Eu achei que Duryodhana ficaria infeliz, e eis por que, por fraqueza, eu não consegui. Mas agora, 6 meses já se passaram. Todo o meu sangue se foi, aquele gerado pelos alimentos dele. Não apenas o sangue, outras substâncias corpóreas, tudo se foi. E agora, o meu coração está puro; especialmente agora que eu obtive o darsana de Krishna. Eis por que sou capaz de falar agora". Draupadi ficou satisfeita. Então, Bhisma Pitamaha disse, "Oh, Maharaja Yudisthira, Bhima, Arjuna e todos os Pandavas. Ouçam com atenção. Havia uma viúva que tinha um único filho de 12 anos, muito belo e qualificado. A senhora costumava adorar e servir as deidades de Narayana. Todas as manhãs ela costumava colher flores e executar arcana. Um dia, ela estava ocupada em outra tarefa e pediu ao filho, "Oh, meu querido filho, vá colher algumas flores e volte&". Era Brahma Muhurta (o período de tempo que leva 90 minutos do amanhecer até o nascer do sol). Era o final da noite, estava escuro e um pouco nublado. O menino entrou na floresta e começou a colher flores de um arbusto - beli, chameli, e outras. Enquanto ele colhia flores, uma cobra muito venenosa com capelo e um dente enorme o mordeu, e em um instante o menino caiu e morreu. Um caçador vinha por aquele caminho e viu que, sem nenhum motivo, a cobra havia mordido e matado o menino. O caçador conhecia um mantra para controlar a cobra e, colocou a cobra num pote de barro, pegou o corpo morto do menino, pôs nos ombros e foi até a senhora viúva. Ela estava esperando pelo filho e quando viu aquilo disse, "Oh, meu filho está chegando". Ela percebeu, entretanto, que não era o filho dela mas somente o corpo morto dele. "Oh, o que aconteceu?" ela perguntou. Ela começou a chorar e a bater em seu coração. Ela gritava, "Oh, Deus, o que aconteceu? Ele era a única bengala de meu eu cego". Do mesmo jeito que uma pessoa cega usa uma bengala, assim o filho era como uma bengala para ajudá-la na velhice. "O que aconteceu?" Ela desmaiou e depois de algum tempo, quando ela recobrou a consciência, o caçador contou, "Mãe, eu estava vindo por aquelecaminho. O menino estava apanhando flores. Ele não fez nada de errado, mas essa serpente escura veio e o mordeu. Agora, você deve me ordenar que eu mate e queime essa cobra até que ela vire cinza, imediatamente". O caçador disse isso várias vezes – 2, 3, 4 vezes – mas a senhora viúva ficava somente chorando e se lamentando. Finalmente, ela disse a ele, "Oh caçador, se você matar essa cobra e queimá-la isto trará o
meu filho de volta a vida ou não?" O caçador começou a pensar respondeu, "Oh, o seu filho não pode mais viver". Ela disse, "Então, por que você quer futilmente matar a cobra? Liberte-a". O caçador novamente respondeu,  "Oh, eu não posso fazer isto por que essas cobras são muito perversas e estão sempre zangadas. Sem qualquer motivo elas mordem os outros". Animais como estes – cobras, escorpiões, ratos – irão cortar em pedaços as suas roupas sem qualquer propósito. E os cupins vão se multiplicando e derrubarão o seu teto, e, depois de algum tempo, toda a sua casa estará acabada. Se você guardar qualquer tecido ou outra coisa – eles gostam dessas coisas muito preciosas – em um segundo eles pegam tudo.
O caçador continuou, "Então a cobra deve ser morta. Caso contrário, no dia seguinte ela matará outra pessoa, morderá outra, e depois mais outra. Eu devo acabar com essa cobra."; Novamente a viúva o proibiu, "Oh, você não deve matá-la. Por favor, liberte-a."; Mas ele disse a ela, "Eu não farei isto, eu vou matá-la. Por que ela mordeu seu filho?" O caçador estava a ponto de matar a cobra quando a serpente disse, "Por que você está me matando? Eu não fiz nada errado. Por que eu não mordi os outros? Por que somente essa criança? Kala veio até a mim. Você conhece Kala? O tempo chegou. A morte veio e disse para mim,  Você deve morder esse menino. E assim o fiz." Então, o caçador respondeu, "Isso não tem lógica. Se alguém morder ou matar uma pessoa sob a ordem e inspiração de outra pessoa, então ambas são culpadas. Então, você deve ser punida; e a tal kala também deve ser punida. Eu irei matar você. Isto não tem lógica".
Imediatamente kala apareceu na forma de uma pessoa, e disse a ele, "Oh caçador, por que você está me acusando? E disse para a serpente, Por que você está me acusando? Eu não sou a causa; eu nada disse. A razão é esta: no nascimento passado esse menino matou aquela cobra que tinha adquirido a forma de ser humano; e então suas atividades, nesta forma, se tornaram kala. Então eu, através de você, o mordi. A causa não sou eu mesmo; foram as próprias atividades dele. Nesse mundo ninguém é amigo e ninguém é inimigo."

Nós devemos tentar se lembrar disso. Se alguém lhe insultar, bater ou abusar de você, não o considere um inimigo. As suas atividades são os seus inimigos. Como devem ser as suas atividades de agora em diante e no futuro? Não critique, não ofenda, não faça nada errado. Do contrário, suas atividades irão voltar e fazer isto. Neste mundo, então, ninguém é inimigo ou qualquer coisa. 

Sri Narada Gosvami costumava ir a Kamsa Maharaja, e Kamsa costumava pensar, "Ele é meu guru." Depois disso, Narada ia até Vasudeva Maharaja e ele também costumava pensar, "Ele é meu guru."Narada Rsi uma vez foi até Kamsa e disse, "Oh, por que você está esperando? Por que você não está matando todos os filhos de Vasudeva? Quando eles vierem todos juntos, o que você fará? Então você deve ir. Eu fui até Kailasa, e eu estava presente no conselho de todos os semideuses quando eles estavam tramando uma conspiração e planejando como matar você. Os semideuses agora tomaram nascimento nas dinastias Yadu e Vrsni e irão matá-lo se você não ficar atento. Então, você deve ficar atento. Depois disso, quando ele foi até Vasudeva Maharaja, Narada Rsi disse, "Oh, não se preocupe. Os tempos ruins acabaram para você. Agora, muito em breve, o oitavo filho de Devaki irá matar Kamsa. Então, espere um pouquinho; só um pouquinho. Não se sinta tão fraco." Narada Rsi sabia de tudo.

Vocês devem tentar executar bhajan sempre, e não pensar, "Ele me insultou. Ele é meu inimigo. Ele é meu amigo". Não sejam assim. Os únicos amigos são Krishna e Guru. É muito difícil, muito raro, encontrar um devoto verdadeiro, um amigo verdadeiro, que, sem qualquer desejo de ganho pessoal, fará o bem a você e sempre pensará no seu bem-estar. Sua esposa, seus filhos, e seus amigos irão sempre enganar você, e tentarão buscar a gratificação dos seus próprios sentidos – não em seu benefício, para que você seja feliz. 

Tentem entender todas estas coisas. A riqueza também não pode salvar vocês. Tentem compreender isso. Sejam unidirecionais a Krishna, e tentem ser felizes, sem qualquer problema. Sendo o único problema, "Oh, como posso alcançar Krishna? Oh, onde está Vrajendra-nandana? Onde está Vrajendra-nandana? Onde está Radhika?"Às vezes em Vrindavana, às vezes aqui e ali – como Srila Rupa Gosvami e outros. Como Srila Bhaktivedanta Svami Maharaja disse, "Meu escritório é em Bombay, meu sadhana-ksetra (local de sadhana-bhajana) é em Mayapura, e minha morada é em Vrindavana". Em seus últimos dias ele ficou lá em Vrindavana. Sempre pense em Vrindavana, Vrindavana-candra e Vrindavana-candri.

(extraído de www.purebhakti.com, sob a guia de Pujyapada Vana Maharaj)

tradução e revisão: colaboradores do Instituto Vidya Nagar

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